Inspirado em sonoridades como a de Lô Borges e Bon Iver, o segundo disco de Marcus é uma coleção de músicas sobre amor e saudade
Uma vez, durante uma entrevista, Tim Bernardes disse que seu disco ‘Recomeçar‘ tirou seu “medo de falar de amor e soar genérico“. As 13 faixas foram muito bem recebidas pelo público, que se sensibilizou e se deixou levar pelos sentimentos que o vocalista d’O Terno depositou em suas composições autorais. No contexto da nova música brasileira, encontrar artistas tão únicos quanto Tim é um grande privilégio. É por isso que precisamos falar sobre Marcus Lopes.

Foto: Gabriel Reis
Marcus Lopes é um artista mineiro que emana sinceridade. Poderia tranquilamente escrever canções para um disco sobre amor e deixar com que elas soassem genéricas mesmo, mas não foi o que ele fez em ‘Por Aí‘, lançado em novembro de 2020 pelo Sentinela Discos. Em nove faixas, gravadas no estúdio Frango no Bafo (BH) e produzidas por Marcus, Henrique Matheus e Thiago Corrêa, o cantor e compositor abre o coração para refletir sobre amores que ficaram para trás, mas deixaram suas marcas.
A ideia central de todo o repertório é uma reflexão que, apesar de dolorosa, é necessária: nessa jornada de amar e se doar, a gente acaba perdendo uma parte de nós mesmos a cada experiência afetiva. Com suas melodias e letras delicadas, Marcus resgata memórias de relacionamentos passados, revive saudades e afirma do começo ao fim do disco: “tem um pedaço meu por aí“.
Escute ‘Por Aí’, último disco de Marcus Lopes
Ficha técnica:
Composições: Marcus Lopes
Arranjos: Marcus Lopes, Henrique Matheus e Thiago Corrêa
Produção: Marcus Lopes, Henrique Matheus e Thiago Corrêa
Estúdio Frango no Bafo
Marcus Lopes: teclados e vozes
Henrique Matheus: violões e guitarras
Thiago Corrêa: baixos
Edgar Siqueira: bateria em ‘Despedida’;
Gabriel de Mattos: piano elétrico em ‘Despedida’;
Ulisses Luciano: trompete em ‘Por Enquanto’;

Capa de ‘Por Aí’, disco de Marcus Lopes
Sabendo do imenso valor de reconhecer a sensibilidade de artistas como Marcus Lopes, batemos um papo com ele sobre suas inspirações, a maturidade musical e pessoal, o conceito do disco ‘Por Aí‘ e o que ele já está planejando para o futuro.
Entrevista completa com Marcus Lopes
Cabana: Antes de conversarmos especificamente sobre seu novo disco, gostaria de falar sobre inspirações com você. Para um compositor de canções que dizem tanto e sobre tanto sentimentalismo, é certo que o processo de criação de cada uma delas deve ser também muito sensível. Atualmente, quais são suas principais referências musicais? Quem vem em mente quando o assunto é inspiração?
Marcus: Hoje em dia? Vai parecer conversa, mas a minha maior inspiração hoje em dia são os outros artistas de Belo Horizonte, especialmente a galera que faz tudo sozinha, sem grana, grava como dá e não tem medo de assumir as imperfeições do próprio som. Eu sempre fui muito perfeccionista, e esse pessoal tem me inspirado cada vez mais a parar de me julgar tanto e só fazer o que eu preciso fazer. Agora, musicalmente, não sei dizer. Eu tenho feito músicas que acho que eventualmente sairão em dois álbuns completamente diferentes entre si, mas ainda é cedo. Daqui alguns meses eu devo identificar melhor as referências. Uma coisa é certa: não tem nada a ver o “Por Aí”, meu disco novo. As músicas dele são antigas e as referências delas foram bem específicas.
Cabana: Seu disco mais recente, ‘Por Aí’, foi produzido por você e por mais dois músicos. Vi que Henrique e Thiago, que construíram esse trabalho com você, também já colaboraram com nomes como Lô Borges. Falando nisso, o tom melancólico e intimista, presente nas faixas de ‘Por Aí’, transmite algo semelhante ao sentimentalismo de várias obras de Lô. O que você espera que esse disco transmita às pessoas que escolherem escutá-lo?
Marcus: Eu não sei nem expressar o quanto a música do Lô e o Clube no geral são importantes pra
mim. Você identificar uma relação entre a música dele e a minha me deixa bem feliz. O “Por Aí” é um disco sobre saudade, sobre aquela dorzinha que a gente tem quando pensa no que já passou, quando nota as coisas ficando pra trás. Compor essas músicas me ajudou a transmitir a beleza que eu vejo nessa dor. Se alguém ouvir o disco e encontrar essa beleza, acho que ele cumpriu o seu papel.
Cabana: Como ouvinte, eu diria que uma das palavras que resumem o ‘Por Aí’ é “amor”. Mesmo falando de términos, passados, perdas, dor, você não deixa de falar de amor… e com amor. Isso é bonito, deixa aquela mensagem de que, apesar de ter ficado para trás, o que se viveu era intenso enquanto se vivia, e, por isso, deixa marcas. Nesse mesmo sentido, na primeira faixa, você canta “tem um pedaço meu por aí”. A penúltima faixa, chamada ‘Despedida’ (que, por algum motivo, é o mesmo nome do seu disco de estreia), possui o mesmo verso. Seria essa frase um resumo do disco?
Marcus: Exatamente. Eu não conseguiria explicar tão bem quanto você no seu comentário. O “Por Aí” é uma coleção de músicas em que a grande maioria se baseia em coisas que eu vivi. O lance é esse mesmo: eu sinto que certas experiências levam uma parte nossa. A gente fica meio incompleto e existe um lado bonito nisso daí. Pode soar meio cafona, mas o que é que eu vou fazer?
Cabana: Especialmente como artista, mas também como ser humano, o que você sente que mudou no Marcus que, em 2018, lançava o disco de estreia, ‘Despedida’, para o Marcus que, no fim de um ano tão turbulento como 2020, lançou ‘Por Aí’?
Marcus: Acho que eu ganhei uma compreensão um pouco maior das minhas capacidades e limitações, especialmente em relação à minha voz. Aprendi a relaxar um pouco na questão do perfeccionismo e tenho um pouco mais claro o lugar da música na minha vida. Mas talvez no futuro eu saiba analisar melhor quem eu sou hoje.
Cabana: Ainda em tempo, e aproveitando para fazer referência a uma das faixas do seu último disco, quero te desejar um Feliz Ano Novo (mas que, dessa vez, não seja perdido). E, bem, por mais que o futuro seja um mistério para todos nós, ainda mais em tempos tão incertos como esses, você consegue dizer o que tem planejado para 2021? Novos lançamentos? Novos projetos? Ainda não podemos falar de shows, mas o que você vislumbra para esse ano?
Marcus: (risos) Feliz Ano Novo pra você também e obrigado pelo espaço. Tem mais uma música vindo aí. Lá pra abril, junho. Eu acho que é uma das minhas melhores, e já é algo bem diferente do “Por Aí”. Depois disso, eu pretendia ficar um bom tempo sem mexer com música. É bem cansativo. Às vezes é frustrante. Queria umas férias. Mas “infelizmente” eu tô compondo. Como eu disse, tem dois discos nascendo ao mesmo tempo. Já vi que não vou descansar!