
“There’s no fighting in Doo Wop”
Já não é surpresa para ninguém que a música se reinventa e se refaz a cada segundo de nossas vidas. Enquanto lemos esse texto que não durará mais que 5 minutos, algum compositor cria um novo subgênero musical que dará vida a outros 3 subgêneros, que dará vida a outros 3… E por aí vai. Às vezes, esse fluxo nos traz surpresas boas e outras nem tão boas assim, mas em algum momento, essa movimentação intensa da música nos traz tendências que irão durar por bastante tempo, como por exemplo: o Doo Wop.
Se você não faz a menor ideia do que é esse tal de Doo Wop e o que ele fez de tão especial no universo da música, fica tranquilo que eu explico. Doo Wop é um daqueles subgêneros de outro subgênero que já havíamos lido no último paragrafo. Em uma tradução mais simples: o Doo Wop é um subgênero do R&B, só que diferente de seu “irmão mais velho”, o Doo Wop só ganhou as graças dos ouvintes algum tempo depois de sua criação. Enquanto na década de 30 os olhos do mundo estavam voltados para a comunidade negra norte-americana, que com um violão e uma gaita contavam histórias de resistência e saudades, criando novas tendências e maneiras de se expressar, alguém pensava em um jeito de tentar mudar um pouquinho tudo aquilo já havia sido feito.
Não existe de fato um registro das primeiras aparições da estilística do Doo Wop nas canções da época, mas sabia-se que aqueles grupos formados por 4 ou mais integrantes com certeza estavam trazendo algo totalmente novo para a música norte-americana. Diferente das linhas retas do Blues e bem mais dançante que o Jazz, o Doo Wop trouxe mais molejo e swing para aquela melancolia elegante cantada pelos artistas dos anos 40/50. Com muito mais agudos, os cantores perceberam que eram capazes de criar novas melodias vocais apenas imitando o som dos instrumentos, como por exemplo, a imitação do som da bateria no hit de Little Richard, Tutti Frutti. Mas claro, não pararíamos por aí.
Das imitações passamos para as combinações vocais, que se tornaram ainda mais populares nos anos 60, quando bandas onde quase todos os integrantes tocavam e cantavam unindo suas vozes em uma espécie de coral uníssono, que dava uma estética muito única para as músicas da década. Essa estilística do Doo Wop é parte da característica de um outro parente de seu irmão mais velho, assim como o Doo Wop é proveniente do R&B, o R&B é proveniente dos corais gospel norte-americanos, onde as canções eram quase que inteiramente formadas por combinações de diversas vozes. The Vogues, Roy Orbison, Paul Anka, The Beach Boys e até mesmo The Beatles foram fortes adeptos dessa prática. Mas como tudo que é sucesso se espalha na velocidade da luz, pouco tempo depois essa técnica ganhou até mesmo as produções Ítalo-Americanas, tornando-se uma característica extremamente marcante de artistas de grandes destaque dentro dessa cena, como Dean Martin .
E claro, ainda não paramos por aí. A cada passar de décadas, continuamos a ver essa forte presença do Doo Wop em cada gênero que surgia, e com representantes bem diferentes. Nos anos 70 temos o Bee Gees e o ABBA como bons exemplos. Nos anos 80 podemos encontrar essa estética em composições de Billy Joel e The Smiths.
Enquanto nos anos 90 quando as bandas de rock progressivo dividiam espaço com boy e girlbands, vemos um traço de Doo Wop no The Cranberries e até no Backstreet Boys.
Chegando aos 2000, as coisas ficaram um tanto quanto curiosas. Retornando as suas origens norte americanas, o Doo Wop se juntou ao Noise Pop Californiano e ao Post Punk, feitos no final de 2010 e tornou-se bastante… barulhento. Com guitarras estridentes e vocais extremamente melódicos, uma nova geração de músicos que se apegaram ao hard-core melódico e ao Pop Punk percebeu uma oportunidade única de criar uma coisa nova. Com representantes como The Regrettes, The Frigths, Fidlar e Together Pangea, o Doo Wop mais uma vez ganhou uma nova face no mundo da música.
Em todo lugar que olhamos é possível encontrar referências do Doo Wop, em seu mais puro suco ou batido com alguma outra tendência temporal, mas isso só acontece graças a capacidade da música em manter-se sempre viva e em constante transformação.