
“Viajar, conhecer pessoas, música, arte, natureza, minimalismo e aprender com todo esse processo”
Viajar pelo Brasil levando música e arte por onde passar. Parece até um sonho, né? Mas o pessoal da Caixa Rolante transformou esse sonho em realidade, e só precisaram de muito amor… E uma kombi! O Cabana Da Música bateu um papo super legal com o Vitor do estúdio Caixa Rolante pra conhecer um pouquinho mais desse projeto tão legal e tão original. Confira abaixo a entrevista:
Cabana: Conta um pouco de como funciona o projeto?
Vitor: Somos um estúdio audiovisual móvel. Tudo começa com um contato com bandas, músicos ou espaços culturais. Desse contato vemos como podemos produzir um conteúdo que faça sentido e seja uma experiência transformadora para todos. Em seguida viabilizamos a idéia, chegamos a valores, se podemos fazer alguma ação ou envolver terceiros para ajudar nos custos. Resumindo, nós viajamos gravando música montando nosso roteiro conforme as conexões que fazemos. Além disso montamos oficinas ensinando Audiovisual, estamos sempre produzindo vídeos no nosso canal do Youtube sobre isso.
Cabana: Quando vocês criaram o Caixa Rolante, o que vocês tinham em mente?
Vitor: Nós queríamos dar voz a quem “ta” fazendo arte por ai e estar mais próximos de nossas paixões. Viajar, conhecer pessoas, música, arte, natureza, minimalismo e aprender com todo esse processo. Nos primeiros trabalhos vimos como nos encaixamos e somamos nos mais diversos lugares que chegamos. Passamos a trabalhar com artistas incríveis, que rapidamente viraram amigos e que de outra forma nunca conheceríamos eles. Hoje tentamos ser úteis onde estamos, identificar a real necessidade de quem se conecta com a gente e usar nossa estrutura e talentos para fazer alguma diferença onde estamos.
Cabana: As oficinas de audiovisual sempre foram parte do projeto ou se tornaram ao tempo que vocês perceberam as necessidades da cena nacional?
Vitor: Sempre gostamos de passar o nosso conhecimento a diante. As oficinas acabaram acontecendo naturalmente. Aconteceu diversas vezes das bandas ficarem surpresa com a qualidade com a gente gravando de uma forma tão simples. Quando isso acontece a gente ama desmistificar as coisas e mostrar pro artista como ele pode produzir um bom conteúdo sem quebrar muito a cabeça, nisso vieram os primeiros convites para fazermos oficinas.
Um movimento parecido aconteceu online, no inicio postávamos apenas o resultado final (o clip) no nosso canal do Youtube. No máximo um making of da viagem. Começaram a ter diversas perguntas nos comentários de como tínhamos feito aquela gravação em lugares tão inusitados. Foi ai que passamos a gravar vídeos ensinando o processo. Hoje temos um curso online ensinando tudo o que fazemos.
Cabana: Por quantos lugares vocês já passaram e qual foi o mais marcante?
Eu fiz uma temporada piloto com o estúdio em uma moto passando por 4 cidades do estado de São Paulo (Mogi-guaçu, Limeira, Tatuí e Santos) e uma de Minas Gerais (Extrema). Depois ficamos um tempo construindo a Kombi, atuando em Socorro (SP) e a capital (SP). A pandemia nos fez adiar bastante alguns planos mas, finalmente saímos. Já gravamos em Extrema, Tatuí, Porto Feliz e agora estamos na região de Cananéia e Ilha Comprida rumando ao sul do país.
Difícil dizer qual foi mais marcante, pergunta bem difícil (risos). Quando gravei o projeto piloto, a primeira cidade que fui foi Extrema, não conhecia ninguém lá e a banda “Cidade Fantasma” confiou no trabalho e fez o projeto acontecer lá. Agora, em nossa saída com a Kombi, voltamos a Extrema a convite de integrantes da mesma banda para gravar a “Projeto Paralelo”. Foi bem emocionante ver como uma conexão feita na estrada se torna tão forte. Além de que gravamos na Serra do lopo. Um dos lugares mais lindos que já gravamos.
Cabana: Desses lugares, quais foram os principais desafios que rondavam o meio artístico das regiões?
Vitor: Acredito que o principal desafio seja financeiro. Tem muito artista talentoso e cheio de vontade de trabalhar e não é devidamente valorizado. Na pandemia isso piorou muito. Quando estamos tendo ideias para a gravação sempre surgem ideias incríveis que muitas vezes são barradas pelo custo envolvido. Com esse cenário nos esforçamos para viabilizar o projeto junto com o artista. As vezes fazemos outros projetos para levantar grana e sempre otimizamos o investimento. Tratamos com muito cuidado o investimento e bolamos ações que atendam a verdadeira necessidade do artista. Produzindo um material que acompanhado de ações simples tragam algum retorno, ou que possa ser usado para produzir outros materiais. Corremos junto com o artista para que tudo faça sentido para ambos.
Cabana: Vocês tiveram muito apoio no início da caminhada com a Kombi?
Vitor: DEMAIS!!! Primeiramente da Família, fazíamos uma bagunça danada na garagem dos meus pais na reforma da Kombi. Além disso vários profissionais especialistas nos ensinaram a fazer as coisas, ou mesmo fizeram junto com a gente. Muitos amigos iam lá ajudar a gente na reforma. Ganhamos vários materiais como madeira, colchões, laminados, estruturas e etc de pessoas que nos acompanhavam. Por fim, ganhamos bastante presentes pra Kombi na nossa saída. Com toda certeza o apoio foi fundamental pra isso acontecer e tivemos muito apoio.
Cabana: Já rolaram muitas festas na Kombi? (risos)
Vitor: A pandemia está limitando muito isso agora. Não vemos a hora de tudo isso passar e fazer festas até enjoar. A umas duas semanas fizemos uma discotecagem na areia da praia com a kombi de palco. O DJ Ricardo Almeida discotecou e depois uma banda fez um pocket show. Usamos a estrutura, iluminação e energia solar da kombi para fazer isso e foi lindo. Tudo acontecendo de frente pro mar com a lua cheia nascendo. Infelizmente por causa do covid o público foi apenas os envolvidos mesmo mas, já sentimos o potencial que temos quando tudo tiver melhor (risos).
Cabana: Vitor, pra finalizar nossa conversa, que foi ótima! Quais são os planos para o futuro? Principalmente pro futuro pós-pandemia
Vitor: Foi incrível a conversa, muito obrigado. As perguntas foram ótimas. Nós queremos dar voz a cada vez mais artistas e mostrar que arte acontece em todo lugar. Pretendemos construir uma maneira sustentável de levar a Caixa Rolante para lugares fragilizados que não tem condições de financiar o projeto. Com a possibilidade de nos movermos queremos criar conexões que cresçam junto com a gente. Basicamente, queremos ver arte acontecendo em todo lugar e tornar cada vez mais acessível a produção audiovisual.